setembro de 2010

VUVUZELA, O GRITO AFRICANO VOLUME 2: SANDRA IZSADORE

Ramiro Zwestsch

fotos Divulgação

 

 

 

 

 

O nigeriano Fela Kuti é um dos melhores exemplos de que, também na música, por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Não só porque ele se casou com nada menos do que 27 esposas em uma cerimônia de caráter político, nem por causa da presença vibrante das dançarinas nas suas performances, tampouco por causa do contraponto onipresente do coro feminino aos gritos de guerras do vocal principal: é, principalmente, porque antes de conhecer uma grande mulher, seu discurso ainda não tinha a veia política que o transformou num ativista contundente, além de pedra pontiaguda e permanente no sapato do governo nigeriano.

 

A norte-americana Sandra Izsadore hospedou Fela em Los Angeles, durante uma turnê do nigeriano, em 1969. No decorrer da estadia, Fela leu a auto-biografia de Malcom X, foi apresentado às ideias dos Panteras Negras e ouviu muitos discos de Miles Davis e Nina Simone.

 

 

Musicalmente, ele levou de volta à Nigéria uma influência mais explícita do jazz norte-americano e esse foi um dos elementos cruciais para a revolução rítmica que resultou no afrobeat, criado pouco depois. Politicamente, assumiu o protesto como tema quase exclusivo em suas canções e virou uma liderança de oposição. Emocionalmente, voltou apaixonado.

 

“Sandra me deu o suporte financeiro que eu precisava e um conhecimento que eu não tinha. Ela me apresentou Malcom X; os Black Phanters; a história da África”, admitiu certa vez o músico em entrevista à revista norte-americana “Spear”.

 

O amor, porém, não se firmou (vá convencer uma ativista de que poligamia é algo cultural e/ou político e /ou legítimo). Se você nunca ouviu falar nela, comece pelo disco “Upside Down”, de 1976. Trata-se de mais uma poderosa produção de Fela Kuti e África 70 em seu período mais inspirado, com uma singular diferença: os vocais principais são de Sandra Izsadore – e é empolgante ouvir um arranjo tipicamente “felakutiano”, marcado como sempre pelos ataques dos metais e por um groove aceleradamente minimalista, em que voz e coro são femininos.

 

 

Para ouvir, o caminho mais fácil é o youtube AQUI. Mas o disco há de estar disponível na íntegra em algum lugar da rede.

 

O vinil original? Se encontrar, por favor, avise!

 

 

 

 

 

 

 

Ramiro Zwestsch

RAMIRO ZWESTSCH é jornalista e idealizador do site Radiola Urbana.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.