julho de 2010

LIGA NÓIS! LIGA DO VINIL RESGATA A CULTURA DOS BOLACHÕES E FAZ A MASSA SACOLEJAR

Nayara de Deus

 

 

 

fotos MANDELACREW

 

 

 

 

 

 

Em 2007, o músico de jazz norte-americano Stanley Jordan, de passagem por São Paulo, fez questão de atravessar a cidade para sentir na pele a emoção de ouvir das genuínas vitrolas de um bar da periferia do M´boi Mirim – mais precisamente no Jd. Jangadeiro (quase Jd. Ângela) – ícones do samba-rock, soul e funk, tendo como palco toda atmosfera de prazer que é estar e integrar uma verdadeira comunidade movida por música.

 

Com discos de vinil por todos os cantos, um bar com cara de bar, pessoas de todas as cores e idades e cravado no número 48 da rua João José Rodrigues Junior, Stanley Jordan, assim como já fizeram Izzy Gordon, Tony Tornado e Cafú, estava no QG da Liga do Vinil.

 

Formado por Robson, Kinho, Kara D’ Pau e Grand Master Cuca, baileiros nos 80’s e colecionadores de disco por toda a vida, o projeto Liga do Vinil surgiu em 2006 (digamos que, por problemas de espaço). “Eu coleciono vinil e a maioria dos meus amigos de infância são baileiros e colecionadores que estavam com seus vinis ali, guardados…era uma coisa restrita porque ia um na casa do outro. Então, eu gosto de vinil e o amigo gosta. Mas, a mulher, os filhos não gostam… e a gente ficava escutando sozinho”, diz o Dj Robson Brito, presidente do projeto.

 

E, como todo problema requer solução: “aí eu pensei: vou montar a aparelhagem, colocar os toca discos e convidar os meus amigos e amigas pra ouvir uma música no vinil e…pô! Pra mim é maravilhoso falar de Tim Maia, de Funkadelic, de James Brown, Jorge Ben, Ed. Lincon…pôxa! Tudo aquilo guardado, jogado, e poucas pessoas dando valor”, desabafa o Dj.

 

O projeto acontece sempre no segundo domingo de cada mês com a participação de convidados da ZN, ZL, ZO, Centro e ABC paulista. O clima de “festa nostalgia”, como a própria Liga se refere, é quebrado quando se vê, na pista, crianças e adolescentes arriscando (e quase sempre acertando!) junto a seus pais, passos de Brown, Jackson, e rodopios sugeridos pela gama de ritmos swingados que ditaram o som das pistas nos 60’s. O ambiente é simples, um bar pequeno decorado com mais de mil bolachas. A exigência é apenas uma: só se tocam discos de verdade! O público, a maioria da própria comunidade, não economiza sorrisos e faz qualquer visitante sentir-se em casa.

 

 

EQUIPES

Em meados dos anos 80, os protagonistas em cena dos grandes bailes eram as equipes, que detinham conteúdos raros e maior quantidade de discos. A equipe que tivesse as “bolachas” mais inacessíveis era rainha. A famosa Chic Show, equipe que ficou por 10 anos no ar, na rádio Bandeirantes, era, nas palavras de Edson, “a top, top, top!”. Ele lembra: “cada equipe teve sua grande época mas, a Chic Show…(sorri). Tinha também a Zimbabwe, a Mad Black, a Paulistano da Glória, na Liberdade”.

 

Kara D’ Pau, 41, é funcionário público e iniciou sua carreira “pelos bailes da vida” aos 14 anos com a equipe Negros Tims, uma homenagem a Tim Maia. Ele lembra que em 70 e 80 muitas festas aconteciam nas garagens. “Com pouco material, as equipes menores não tinham força para promover bailes em colégios…aí fazíamos as festas nas garagens das casas, que iam virando grandes bailes”. Quem não tinha cão, caçava com gato. “A gente gravava o programa da Chic Show da rádio Bandeirantes em fita K7 pra tocar nas nossas festas. Teve música que a gente adorava e só a Chic Show tocou por quase 10 anos, e ninguém descobria de onde tinha saído o disco, de quem era a música”, completa Edson.

 

 

 

 

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BAILE NOSTALGIA

É como chamam hoje as festas que eram moda nos anos 70, 80 e 90, permeadas pela linha redonda do baixo, que não exagera nas notas, e bateria pra frente sempre, afinal, o groove nunca pode parar!

 

 

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EQUIPES DE BAILE

Clube dos 30

Transachique

Família João Reis

Rapaziada Negro É Lindo

 

 

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LIGA DO VINIL

Todo segundo domingo do mês, a partir das 16h
Rua João José Rodrigues Junior, 48
Jd. Jangadeiro, Zona Sul

Nayara de Deus

NAYARA DE DEUS é jornalista e sommelier. Dedica parte da sua vida em busca do melhor equilíbrio entre vinhos, à audição e pesquisa de velhos e novos talentos musicais.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.