novembro de 2014

PAPÉIS DA MEMÓRIA: AFETOS E TRAJETOS NEGROS EM SÃO PAULO (1940-1950)

Alexandre Araujo Bispo

 

 

 

fotos Arquivo Pessoal

 

 

 

 

 

 

“Uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela floresceu”.
Ecléa Bosi (2003: 199)

 

 

 

A palavra arquivo e a expressão arquivo pessoal estão amplamente difundidas em nossa sociedade, e muitos de nós bem sabemos o significado destes termos quando perdemos dados armazenados em celulares, pendrives, discos rígidos e outras mídias digitais. Mesmo quando o que guardamos foge a nossa visão e, talvez jamais reapareçam, ainda que a necessidade nos desafie a localizar algo perdido, nós arquivamos. Imagine, por exemplo, aquela nota fiscal que comprovaria o pagamento da compra de um bem eletrônico que mesmo estando na garantia não pode ser utilizado porque falta uma comprovação? Parte do que arquivamos tem essa função: comprovar para se garantir um direito. Mas guardamos muito mais coisas: bilhetes amorosos, cartas, fotos de quem fomos e de quem gostamos.

 

Na minha atual pesquisa de doutorado em Antropologia, na Universidade de São Paulo (USP), intitulada Acabou o papel: práticas de memória, cultura visual e transformações urbanas – São Paulo (1948-1988), analiso a documentação do arquivo pessoal produzido por Nery Rezende (1930-2012), mulher negra, um tanto incomum, que guardou grande quantidade de memórias acerca de sua experiência social na forma de papel. Meu interesse ao trabalhar com sua documentação é estudar as relações sociais que se constituem em torno da família, dos afetos, da sociabilidade, do trabalho e da expressão artística no passado.

 

Composto por aproximadamente 13 mil itens, fundamentalmente papéis, entre os quais fotografias, textos datilografados, manuscritos entre outros, nota-se que Nery construiu um arquivo de si, o que lhe permitiu em certa medida “arquivar a própria vida”, como sugere o historiador Philippe Artiéres (1998). Até o presente momento a documentação manipulada aponta para temas como: práticas de memória, cultura visual fotográfica, transformações urbanas e atuação artística.

 

Nery Rezende, nome artístico de Maria Luiza Rezende da Silva, nasceu em domicílio na fazenda Forquilha, em São José do Rio Preto – no Estado de São Paulo, em 1930 – e nos legou um extenso conjunto de documentos relativos à sua vida familiar, pessoal e profissional, acumulados entre os anos 1948 e 2012. Aliás, foi em 1948 que desembarcara em São Paulo vinda da fazenda, restaurando um movimento que, antes dela, fizeram muitos negros motivados pela abolição e a chegada da República.

 

Segundo Greissy Rezende da Silva, sua filha, Nery vivera até os 18 anos como agregada de uma família branca em condições de criá-la. Sua mãe, Maria Rezende da Silva (1912-1990), não tinha como fazê-lo. Em 1948 muda-se para a capital vivendo, daí em diante, com a mãe, a avó Maria Antonia da Conceição (1880-1969), e sua irmã a atriz e vedete Alice Rezende da Silva (1933-1961).

 

 

Os documentos nos contam que: com exceção de Nery, as três residiram até sua chegada em um porão na Rua São Domingos, 120. Esta via cruza a rua Major Diogo, novo endereço para onde foram morar de aluguel desde que Nery chegou. Em 11 de outubro de 1950 é admitida como operária na I.R.F.M (Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo), onde trabalha no setor de Tecelagem de Seda – permanecendo até 19 de setembro de 1952, ano em que goza de férias remuneradas. No ano seguinte é internada em Campos do Jordão para tratamento de tuberculose.

 

Em carta, a mãe de Nery lamenta a mudança da Bela Vista para a Água Rasa, atentando para os efeitos sentidos nas vidas dela e de Alice: “Eu estou no paraíso, saio de manhã e so volto a noite, tomo trez ônibus, faço um sacrifício medonho para ganhar mil cruzeiro, Alice continua daquele mesmo jeito”, isto é desanimada, solitária, deslocada no novo bairro. Mais adiante ela informa que, depois da mudança, Alice “não tem com quem sair, já perdeu de fazer um grande filme”. No entanto, em 18 de agosto de 1953, Alice escreve: “Nery estou feliz, fiz grande sucesso domingo na T.V. grande peça grande papel, sai-me otimamente, o Cassiano Gabus Mendes, veio cumprimentar-me (…) o meu diretor foi Valter Jorge Dester”. Esta segunda carta, entretanto, não deixa claro qual papel desempenhou, se ganhou algum dinheiro ou como se arranjou para ir a TV. Mas é possível supor que Alice tenha atuado nos limites do estereótipo para personagens negras: empregada, mulata sensual, figura caricata e brejeira.

 

Antes de ficar doente, Nery introduziu retratos fotográficos no circuito familiar, ampliando o repertório das imagens já existentes em sua rede de afetos. A fotografia tornou-se uma prática de longa duração em sua vida e vai muito além do período que me propus estudar, 1948-1988, de modo que suas imagens continuam a circular como no calendário que Greissy produziu para homenageá-la, em 2013, no qual fotos de diferentes momentos de Nery são exibidas. Desde que pôde por conta própria ter fotografias – a partir de sua entrada na I.R.F. M e depois como balconista na Casa Capri, loja de roupas nos anos 50 e no SESI (Serviço Social da Indústria) na década de 60 – ela não apenas consumiu retratos como adquiriu uma câmera Bieka, aparelho que fazia apenas 8 fotos tamanho 6×9, totalmente nacional, criada nos anos 1950, em São Paulo. Desde o século 19, a fotografia, e especialmente o retrato, transformou-se em um bem culturalmente valorizado por evocar através da imitação a pessoa ausente, narrando e retendo a aparência dos indivíduos e dos laços familiares de afeto.

 

Muitos destes retratos foram adquiridos nas imediações da Bela Vista, entre o velho e o novo centro: Praça da Sé, Largo do Paissandu, Rua São Bento, Barão de Itapetininga, Avenida São João. Consumidos como forma de enriquecer visualmente a vida e os sentimentos de pertença familiar, os retratos trazem impresso os nomes e endereços de estúdios e garantem espaço para dedicatórias sentimentalistas. Em dois retratos dedicados a Maria Rezende por suas filhas, no dia 14 de julho de 1951, revelam-se os sentimentos filiais de Nery na dedicatória: “Para os teus olhos mamãe o meu retrato e para teu coração o meu amor. De uma filha que a adora”. E de Alice que dedica as seguintes palavras:“A você mamãe para que não me esqueças dou-te esta pequena recordação”. Creio que Alice e Nery se esforçavam para possuir fotos buscando consumir algo da variedade de produtos oferecidos pelo mercado visual: álbuns, ampliações, cores, texturas, formatos. Tal importância é verificada pela quantidade de imagens de Alice produzidas entre a década de 40 até o fim dos anos 50. São pelo menos 32 retratos seus em pouco mais de 10 anos, de diferentes fases de sua vida. Por meio da forma material das fotografias é possível acessar o dinâmico mercado da imagem visual adensado no centro da cidade, bem como a expansão deste mercado já etnicamente segmentado pelo que indica os nomes dos estabelecimentos comerciais do período: Foto Kodama, UEDA, ODA, Kojima, Marimatsu, Alfredo Shimada, Foto Linda – SUEAKI KOIKE – que acentuam a diversidade étnica presente na cidade. O retrato de Nery feito no Foto Kodama, receberia diferentes montagens como esta aqui exibida e produzida em cartão, margem farpada e papel vegetal. Vestida como ao estilo oriental ela não nos encara. O cabelo alisado, segundo recomendação da época, pode ter sido feito com Sedalise.

 

 

Não apenas Alice e Nery, mas homens, mulheres e crianças negros consumiram retratos do Foto Kodama. Também produzidos em estúdio, outro formato bastante recorrente no arquivo, são os retratos 3×4 que somam quase 250 itens. Esses retratos figuram em documentos como a carteira profissional, RG, carteira de motorista, enfim, em documentos oficiais e obrigatórios para a vida na cidade moderna. Para além desta função, este tipo de retrato tem circulação afetiva podendo ser transportado em carteiras, bolsas e, não raro, acompanhados de dedicatória como a que Nery fez a sua mãe, limitando-se a pequena dimensão: “Para mãezinha beijos da Nery 28-10-54”.

 

 

EXPERIMENTAÇÕES ARTÍSTICAS

Se alguns desses retratos circularam em ambientes de afeto familiar, cópias deles serviriam também para divulgar o trabalho artístico amador desempenhado pelas irmãs, nos momentos em que não estavam trabalhando na indústria, no comércio ou em escritórios. Durante os anos 50, as Rezende tomaram parte em grupos como o TEN (Teatro Experimental do Negro) de São Paulo, fundado por Geraldo Campos de Oliveira, em 1948; o Radiatro Experimental do Negro, idealizado por Augusto Barone, diretor branco, na Rádio São Paulo, em 1954; o Conjunto de Mestre Durva e suas Pastoras e a Companhia Negra de Revistas e Comédias Benjamin de Oliveira, provavelmente criada em 1956, cujo empresário era o Sr. Orlando V. Martins, conforme revela o jornal A Gazeta Esportiva, de 31 de agosto de 1956. Trataremos apenas do TEN e do Radiatro neste momento.

 

Todavia saiba ainda muito pouco sobre essas quatro experiências promovidas pelo segmento social negro, é possível, partindo dos próprios materiais acumulados aliados a pesquisa bibliográfica sobre atuação do TEN paulista, saber quem eram os participantes, seus protagonistas, o que faziam e como atuavam. Abdias do Nascimento fundara o TEN, em 1944, no Rio de Janeiro, com o apoio, entre outros, de Ruth de Souza (1921), de quem Alice receberá mais tarde uma fotografia autografada, mas sem data: “Para Alice, uma lembrança da Ruth de Souza”. É possível que a aquisição desta imagem inspirasse inlfuenciando positivamente as Rezende, então no começo de suas trajetórias artísticas.

 

 

Embora a carreira de Ruth de Souza estivesse decolando, e isso devia servir de estímulo para Nery e Alice, ser artista não era algo tranquilo na sociedade paulistana, que ostentando símbolos modernos como a verticalização e o incremento do setor terciário, criava obstáculos para a ascensão social de homens e mulheres negros por meio de racismo explícito. Na capa do jornal, a foto das irmãs Rezende mostra tanto a ação cultural do TEN cuja base era a arte e a cultura, quanto a denúncia da discriminação vigente.

 

 

Corriqueiro, o racismo à brasileira atingiu a bailarina e coreógrafa negra americana Katherine Dunham (1909-2006) impedida de se hospedar no Hotel Esplanada, no centro de São Paulo, ao lado do Theatro Municipal. Ao denunciar que havia sido vítima de preconceito racial, Dunham questionou a suposta democracia racial brasileira repercutindo o episódio dentro e fora do país. Sob pressão dos militantes negros é que surgiu o projeto de lei do então deputado Afonso Arinos (1905-1990) que buscava criminalizar a restrição do acesso de alguém a serviços, educação e empregos públicos por causa da cor da pele. A lei, porém, não pegou: no Brasil fomentava-se a ideia de que vivíamos em ambiente de total “tolerância racial”.

 

O termo experimental introduzido pelo TEN, reaparece em outro grupo: o Radiatro Experimental do Negro (REN), cuja criação foi noticiada em 9 de novembro de 1954. A matéria exaltou a “inovação” da Rádio São Paulo ao valorizar o “esforço e dedicação de Augusto Barone”, seu diretor, apostando em “Três peças escritas por elementos do próprio R.E. N”. Alice e José Francisco, ator que se consagrou pelo papel de Tio Barnabé, no Sítio do Pica Pau Amarelo, eram do primeiro time do grupo. O autor da matéria se pergunta a certa altura da reportagem: “Quantos e quais são os artistas negros de Rádio-Teatro em São Paulo? Eis uma pergunta difícil de ser respondida. O negro, na maioria das vezes, só encontra oportunidade como cantor e instrumentista e certas emissoras há que proíbem sua entrada mesmo como simples assistente nos programas de auditório”.

 

Com um feitio comercial o cartaz do Radiatro Negro revela um organograma do REN nas quais os únicos identificados segundo sua ocupação são os diretores. Alice está entre eles, mas sem sua função marcada, todavia, a posição de seu retrato no material – centralizada – indica sua importância no grupo.

 

 

O caderno “com meus recortes”, espécie de currículo ilustrado organizado por Alice, apresenta SEDALISE anunciante apoiador da iniciativa do REN, segundo o próprio fabricante o produto era um “alisador permanente” próprio ao “cabelo indomável” de mulheres como as sete rádio-atrizes do grupo que obtém com seu uso um resultado “formidável”

 

 

Elemento intrínseco ao corpo negro, o cabelo crespo é assunto explorado na música do cantor negro Francisco Egydio (1927-2007), que gravou pela Odeon Discos a marcha Si essa nêga fosse minha…, de Elso Augusto e Gentil Castro. A letra não deixa dúvidas quanto a recepção negativa do cabelo crespo no mercado erótico de então. Vejamos a letra:

 

Si essa nêga/Si essa nega fosse minha: Eu mandava. Eu mandava reformar/Espichava seu cabelo de uma vez/Atraz dela, não faltava português!

 

A letra indica a atração que a mulher negra despertava nos homens, mesmo sem a “reforma”. Mas alisada/espichada, de uma vez por todas, ela atrairia para si as atenções do homem branco. Na ilustração do panfleto da música de Egydio, a negra desce da limousine com chofeur branco e é recebida por outro empregado branco, funcionário da BOITE que estupefato segura-lhe a mão. A nêga usa vestido decotado semelhante ao de Alice no cartaz do RTN e o apresentado por ela no quintal de sua casa na Vila Formosa. Tal fato aponta para a circulação de convenções visuais e musicais de representação do corpo negro produzidas e reproduzidas de diferentes modos.

 

 

Nabor Júnior, notou, ao apresentar a história do embaixador do Brasil na África Raymundo Sousa Dantas (1923-2002), que é comum acreditarmos que os negros brasileiro não tem consciência de sua própria história. Felizmente é graças a consciência racial que muitos afirmam não existir que arquivos como o de Nery Rezende precisam ser descobertos e estudados ajudando a modificar o cenário da memória negra no país. Como o acesso ao material papel foi “democratizado” no decorrer do século 20, é possível que haja acervos de família repletos dele. Tenho a impressão que com a morte de pessoas contemporâneas as irmãs Rezende, suas memórias entrarão no mundo público, pois os documentos privados em algum momento sofrerão este tipo de deslocamento indo parar no lixo, no mercado de antiguidades ou em instituições de guarda e preservação. Em cada um destes destinos, ele assumirá novos usos e funções, como o que ocorre com este arquivo que ora apresento. Para mim, o contato com o arquivo pessoal de Nery, permite descortinar um mundo amplamente desconhecido, a saber: como indivíduos e famílias negras construíram suas memórias, e por meio delas suas relações de afeto em um período no qual os suportes para memorizar estavam mais acessíveis em áreas urbanas?

 

 

Para finalizar quero chamar a atenção para o problema do destino dos arquivos pessoais. É preciso haver novos centros de documentação e pesquisa para que materiais como os acumulados por Raymundo Souza Dantas e Nery Rezende sejam devidamente catalogados, conservados e disponibilizados para consulta pública. Para isso é necessário entender a importância da memória com o objetivo de conhecer o passado em função dos problemas que nos colocamos no presente, para quem sabe, termos um futuro mais igualitário, no qual histórias e memórias negras sejam inseridas nos processos sociais mais amplos contribuindo para o entendimento do passado e do presente. Ao contrário dos arquivos digitais que precisam de um meio eletrônico para serem lidos e rapidamente envelhecem, os papéis enquanto suportes de memória privilegiados ao longo do século 20, dão acesso direto ao passado. Essa é uma das razões porque ele continua tendo importância e não pode simplesmente ser descartado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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PARA LER

Uma história do Negro no Brasil
Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho
Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) da UFBA e Fundação Palmares/ MinC
2006

 

Arquivar a própria vida
Philippe Artiéres
Revista Estudos Históricos vol. 11, nº 21
Rio de Janeiro, 1998

 

Memória da cidade: lembranças paulistanas.
Ecléa Bosi
Estudos Avançados vol. 17, nº 47
2003

 

Negro na Televisão de São Paulo. Um Estudo de Relações Raciais.
Solange M. Couceiro de Lima
FFLCH – USP
São Paulo, 1983

 

Teatro Experimental do Negro: trajetórias e reflexões.
Abdias do Nascimento
Estudos Avançados vol. 18, nº50
2004

 

Cor, Profissão e Mobilidade. O Negro e o Rádio de São Paulo
João Batista Borges Pereira
EDUSP
São Paulo, 1967

 

Em nome do pai
Nabor Jr.
Revista O Menelick 2º Ato, Ano IV – Ed. ZER0XIII
São Paulo, 2014

 

Minha avó era palhaço
Christiane Gomes e Mariana Gabriel
Revista O Menelick 2º Ato, Ano IV – Ed. ZER0XIII
São Paulo, 2014

 

 

 

 

 

 

Alexandre Araujo Bispo

ALEXANDRE ARAÚJO BISPO é doutor e mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Vive e trabalha em São Paulo. Atua com curadoria, crítica de arte, arte educação e produção cultural. Foi curador artístico, entre outras, das exposições: Aline Motta: Em três tempos: memória, viagem e água (2019); Medo, fascínio e repressão na Missão de Pesquisas Folclóricas, 1938-2015 (2015-2016); Negro Imaginário (2008). Curador educativo entre outras, das exposições: Todo poder ao povo: Emory Douglas e os Panteras Negras (2017) e Bienal Naïfs do Brasil (2018). Possui textos em publicações como Contemporary And América Latina; Revista Omenelick 2º Ato; Art Bazaar; Revista ZUM; SP-Arte; Pivô; Co-autor de Cidades sul americanas como arenas culturais (2019); Metrópole: experiência paulistana (2017) e Vida e Grafias: narrativas antropológicas entre biografia e etnografia (2015).

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.