julho de 2014

NA SALA COM ARI

Nabor Jr.

 

 

 

colaboração Akins Kinte

 

 

 

 

 

 

Sentado em frente à mesa que sustenta um antigo monitor de computador, na escura sala de seu pequeno apartamento, na zona oeste da cidade de São Paulo, e fumando um cigarro atrás do outro, o irreverente e polêmico cineasta paranaense Ari Candido Fernandes, entre uma prosa e outra, envolto na cortina de fumaça que se formara entre nós, dispara: “Hoje, o cinema é meu ponto de refugio, escape; de dar porrada. Porrada com aquilo que coloco na tela, fazendo as pessoas discutirem, refletirem”.

 

Aos 63 anos de idade, completados no último mês de julho, Ari, filho do pequeno comerciante João Cândido Fernandes e da doméstica Maria do Carmo de Jesus Fernandes, vive em São Paulo desde o início dos anos 80. Diretor dos premiados curtas-metragens Martinho da Vila, Paris 1977O Rito de Ismael Ivo (2003), O Moleque (2005), Pacaembu, terras alagadas (2006) e Jardim Beleléu (2009), antigo ativista do movimento negro e um dos idealizadores do Dogma Feijoada, Ari é, sem dúvida, um dos principais representantes do chamado cinema negro brasileiro.

 

Mas, observando atentamente a frase de Ari e, principalmente, a sua trajetória, percebemos que o cinema de, e para Ari Cândido Fernandes, não é de hoje, sempre foi um ponto de convergência, reflexão e manifesto. Ora conjuntamente agindo nele próprio, ora nos que travam contato com o sua obra.

 

 

Nascido em 1951, na cidade de Londrina, no Paraná, “na parte pra baixo da estrada de ferro”, como costuma salientar para acentuar sua origem humilde, Ari teve seus primeiros contatos com o cinema ainda na adolescência, em sua cidade natal, através do cineclubismo: “minha primeira militância”, lembra.

 

“Com os meus 17, 18 anos mais ou menos, me envolvi com o cineclubismo. Nesta época costumava levar alguns filmes para serem exibidos nos centros acadêmicos da cidade, especialmente no Cine Clube Universitário do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Londrina. Vinha de ônibus até São Paulo pegar os filmes na Boca do Lixo (no Centro da cidade). Lembro-me de passarmos o filme O Caso dos Irmãos Nave, do Luís Sérgio Person, para os alunos de direito, medicina, e alguns deles até largarem o curso depois do impacto das cenas (sic). O último filme que vim pegar, e nem cheguei a levá-lo para ser exibido, foi o São Paulo, Sociedade Anônima, também do Person. Me prenderam no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), em Londrina, e me tomaram o filme”.

 

Pouco tempo depois do episódio, Ari, já bastante influenciado pelos ideais socialistas do Partido Comunista Brasileiro, muda-se para Brasília, onde inicia o curso de Cinema na Universidade de Brasília (UnB). Em 1971, ameaçado pelo Decreto-Lei 477/69², sob a acusação de prática subversiva em atividades estudantis e políticas, parte para o autoexílio em Estocolmo, na Suécia. “Tive que sair correndo de Brasília. Estava agitando o Cine Clube da UnB, com filmes, distribuindo panfletos de organizações e tal. Só que estava rolando uma puta repressão naquela época. Uma professora me disse que já estavam de olho em mim e que estavam esperando o momento certo para me pegar. Um amigo me colocou no carro e me levou para Ouro Preto, fiquei um mês na casa dele. De lá peguei um ônibus pra Londrina onde uns amigos comunistas me ajudaram a resolver umas coisas, logo depois fui para São Paulo onde uma organização religiosa me ajudou a sair do Brasil”.

 

E é justamente na Europa, ainda envolto pela atmosfera comunista que deixara para trás, que inicia sua valorosa contribuição ao cinema brasileiro. Na Suécia, onde permaneceu entre os anos de 1970 e 1975, manteve contato com integrantes do revolucionário Partido dos Panteras Negras e foi vizinho do famoso cineasta sueco Ingmar Bergmann. Em Estocolmo, além da continuidade nos estudos em cinema, trabalhou em creches e numa fábrica de pães. Depois, seguiu para Paris, onde continuou sua formação e diplomou-se em cinema pela Nouvelle Sorbonne (PARIS III- Censier). Na França, produziu seu primeiro filme: Martinho da Vila, Paris 1977. Com 8 minutos de duração, o curta exibe imagens das ruas e edifícios de Paris enquanto o sambista Martinho da Vila, bastante a vontade, circulando por bairros e bares parisienses, faz reflexões a respeito das diferenças e semelhanças entre a cidade Luz e o Rio de Janeiro.

 

Ainda durante o exílio na Europa, além da produção cinematográfica pulsante, Ari se entregou também ao fotojornalismo, atuando como freelancer para as agências internacionais Gamma, em Paris, e para a britânica Camera Press, em Londres. Em 1978, vai a Cuba, pela Agência Gamma, para fazer a cobertura do XI Festival Mundial da Juventude.

 

 

Graças ao trabalho como fotógrafo, visitou, entre os anos de 1978 e 1979, a desconhecida Eritreia, país africano limítrofe com Sudão e Etiópia, e que somente conseguiu sua independência política em maio de 1993. Alocado a 50 quilômetros da capital do país, na companhia de guerrilheiros, com aviões jogando bombas e homens armados por todas as partes, Ari sente na pele o clima de terror da guerra civil. “Os guerrilheiros eram sempre bombardeados. Nós dormíamos de dia”, conta.

 

A passagem pelo país africano ficou eternizada no documentário Por que a Eritreia? (1979), que recebeu o prêmio de melhor documentário pelo júri popular na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1984. Em 1986, a passagem pelo país africano materializou-se novamente, desta vez no livro Eritréia: Uma Esquecida Guerra de Libertação Africana (Editora Edicon).

 

Os quase 10 anos de viagens mundo afora seriam interrompidos em 1979, ano da publicação da Lei da Anistia, o que permitiu o retorno do cineasta ao Brasil.

 

 

O BOM FILHO A CASA TORNA

 

Ari retorna ao Brasil em 31 de dezembro de 1979, período marcado pelo início do processo de redemocratização do país e pelo estreitamento das relações do cineasta junto ao Movimento Negro Unificado (MNU). “Fui da diretoria nacional do MNU, junto com Hamilton Cardoso, Lélia González, Batista…”.

 

Em 1982, já em São Paulo, depois de um curto período em Londrina, é indicado para assumir a função de Assessor de Gabinete da recém-criada Assessoria para Assuntos Afro-brasileiros, órgão sediado dentro da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e estabelecido no início do governo de André Franco Montoro. É na nova função, dentro do serviço público, que Ari participa da criação do Projeto Zumbi, do qual viria a ser o primeiro coordenador.

 

“A Assessoria para Assuntos Afro-brasileiros nasceu de uma reunião do Movimento Negro Unificado (MNU) realizada na Câmara Municipal e que reuniu mais de 300 pessoas. Era um período de redemocratização do Brasil, anos 80, 81, 82. Na ocasião eu já integrava a Direção Nacional do MNU. Anteriormente, tínhamos feito muitos debates no jornal Folha de São Paulo sobre qual era o lugar do negro na sociedade brasileira. Muitos deles convocados por nós mesmos do movimento. O professor Hélio Santos já vinha participando de reuniões com o Fernando Henrique Cardoso, no PMDB, e discutindo a necessidade do negro ocupar pelo menos um espaço dentro das assessorias de cada uma das secretarias do governo Montoro. Era de um lado uma reivindicação legítima, uma vez que o negro participou, votou, e merecia seu espaço na administração. Por outro lado, hoje, observando toda aquela conjuntura, é fato também que havia o oportunismo de muitos negros que não estavam nem aí para as reivindicações da comunidade negra. Estavam lá para passar a canequinha e ganhar o seu”, recorda.

 

Ari esteve à frente da Assessoria para Assuntos Afro-brasileiros entre os anos de 1983 e 1987, durante as gestões dos secretários de estado Pacheco Chaves e Jorge da Cunha Lima. Entre as muitas realizações da Assessoria no período, como a criação do Projeto Zumbi, destacam-se também a publicação, em 1984, do fac-símile Imprensa Negra Brasileira, pesquisada e prefaciada pelo historiador e sociólogo Clóvis Moura, com legendas de Miriam Nicolau Ferrara, e a editoração do Calendário Afro-Brasileiro de Cultura, em 1986.

 

“Posteriormente a essa reunião na Câmara, onde me indicaram para liderar um grupo que discutiria cultura, nos reunimos na minha casa. Foi um monte de gente, pai de santo, músico (…). Tomaram todos os meus conhaques e meus cafés (sic). Desse encontro tiramos uma comissão de 7 ou 8 pessoas que não só foi na posse do governador Franco Montoro, como também foi direto na Secretaria de Cultura para conversar com o Pacheco Chaves, que havia sido nomeado secretário da pasta. A Assessoria Afro foi a primeira no estado de São Paulo. Me dediquei muito a este projeto, de 1983 até eu ser exonerado, em 13 de maio de 1987. Quem me substituiu foi a Tereza Santos. Promovemos apresentações, debates, exposições, muita coisa. Minha maior honra foi ter conseguido, ou melhor, forçado a barra, para colocar os orixás no Teatro Municipal, ter colocado o Teatro Canto e Dança de Moçambique, da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), também no Municipal. Além disso, outros lugares sagrados como o MASP, MIS. Tudo de graça. Eu fui a cobaia. (sobre a nomeação para coordenar o Projeto Zumbi). Nós ficávamos locados na rua Líbero Badaró, eu, mais um funcionário (ligado as religiões afro) e mais uma secretária. Nosso prédio era em frente a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Nós até tentamos entrar na Faculdade de Direito – que tem imagem de Castro Alves, Luiz Gama – oferecendo o Projeto Zumbi para eles, mas recebemos um sonoro não da diretoria. A Assessoria não era apenas uma assessoria de cultura, mas resolvia assuntos relacionados ao negro de uma maneira geral. Fomos também para a TV Cultura indicar uma pessoa para contribuir com a nossa causa na TV, o Samuel Santiago e a Dulce Cardoso. Englobamos o esporte, trazendo o pessoal do basquete, do futebol, do atletismo, homenageando essas pessoas que estavam esquecidas”.

 

Paralelamente a coordenação da Assessoria para Assuntos Afro-brasileiros, Ari Cândido também foi professor de Fotojornalismo na Universidade de Taubaté, onde permaneceu durante os anos de 1982 a 1991, e na Fundação Cásper Líbero, de 1983 a 1992.

 

 

FEIJOADA SEM SAL

 

No final dos anos 90, Ari Cândido, ao lado de nomes como Noel Carvalho, Jeferson De, Billy Castilho, Rogério de Moura, Daniel Santiago, Celso Prudente, Valter José, Arnaldo Conceição, Luís Paulo Lima e Agenor Alves, participou das reuniões embrionárias do manifesto Dogma Feijoada que, inspirado no Dogma 95 dos cineastas Lars von Trier e Thomas Vinterberg, foi criado com o objetivo principal de eliminar os estereótipos do negro brasileiro no cinema nacional, estabelecendo sete mandamentos para o cinema negro no Brasil: o filme tem que ser dirigido por um realizador negro; o protagonista deve ser negro; a temática do filme tem que estar relacionada com a cultura negra brasileira; o filme tem que ter um cronograma exequível. Filmes urgentes; personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos; o roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro e, por último, super-heróis ou bandidos deverão ser evitados.

 

“Fui às primeiras reuniões do Dogma bem desgastado com algumas coisas que haviam acontecido na Assessoria Afro. O que eu não sabia é que estava entrando em uma barca de vaidades. Fizemos discussões, o manifesto, enfim. Título precisa ter conteúdo. Não adianta ficar no discurso panfletário. Para falar de cinema negro tem que fazer cinema negro. Colocar um monte de negro na tela é cinema negro? Isso qualquer um pode fazer e faz. O que eu quero saber é se existem negros capacitados para dialogar com o seu próprio povo, porque automaticamente estará dialogando com o Brasil, com sua história e especificidades. Mas o Dogma, a meu ver, virou só um nome”.

 

A bronca com o que chama de “desdobramentos oportunistas” do Dogma, inclusive, ganhou capítulos judiciais. “Entrei com um processo para parar com esse oportunismo ideológico. Você esta falando que criou, mas você não criou nada. Nossos antepassados é que criaram. Nós tivemos outros cineastas negros que já morreram, como o Zózimo Bubul, o Waldir Onofre, Cajado Filho, e outros que já se foram. O cinema negro é uma corrente. O Dogma não existe mais, acharam que era colocar um negro na frente das câmeras e outro atrás e pronto? É claro que já é um avanço. Mas sou bastante crítico quanto a tudo isso. Não vejo, hoje, grandes cineastas negros, afro-brasileiros, que estejam fazendo um cinema que possamos chamar de cinema negro brasileiro mesmo, participando da sociedade brasileira, conquistando plateias, bilheterias, corações, mentes. E mais, resgatando um patrimônio que está aí, virgem para ser explorado”.

 

 

ADAPTAÇÕES

Entre os quatro curtas-metragens dirigidos e roteirizados por Ari no Brasil: O Rito de Ismael Ivo (2003); O Moleque (2005), Pacaembu, Terras Alagadas (2006) e Jardim Beleléu (2009), dois deles destacam-se pelas obras e autores em que foram inspirados. O Moleque, ficção baseada num conto homônimo do escritor carioca Lima Barreto, e Jardim Beleléu, filme em homenagem ao músico Itamar Assumpção e livremente adaptado do pequeno conto Não era uma vez, do escritor e poeta Luis Silva (Cuti). Ambos os nomes fundamentais dentro da literatura negra brasileira.

 

 

“Lima Barreto era um irreverente, assim como todo negro brasileiro inteligente é. Foi um cara incompreendido, não por mim. Morro de risada ao ler Lima Barreto. Mal visto, com a vida cruel, com problemas de alcoolismo. Um cara da rua, sofrido em suas relações amorosas, com os filhos. Grande cronista da vida do Rio de Janeiro. Era um cara que estava na capital, competente escritor, mas que era discriminado. Até o deixavam escrever algumas crônicas no jornal, mas nenhum editor queria editar um livro seu. O Lima Barreto ficou no ostracismo desde a sua morte até os anos 50, quando fizeram um apanhado do que ele havia produzido. Fui atrás de algo autobiográfico do Lima e encontrei O Moleque publicado na revista do Darcy Ribeiro, Revista de Cultura. E disse para mim mesmo, ‘é com esse que eu vou’”, revela Ari sobre o premiado curta-metragem O Moleque. O filme, vencedor do International Portuguese Film Festival (2008), em Toronto, conta a história do filho de uma lavadeira de roupas, que mora em um pequeno vilarejo. O garoto é alvo de gozações de outros meninos e ele responde às provocações com muita criatividade. No elenco, Abayomi de Oliveira, Zezé Motta, Maria Ceiça, João Acaiabe, Eduardo Silva, Rodolfo Valente e Javert Monteiro.

 

“O conto Não Era Uma Vez é brilhante e tem apenas duas páginas. Incrivelmente, os poucos cineastas negros que temos ainda não haviam adaptado nada do Cuti para o cinema. Um militante, um poeta, reconhecido lá fora, mas pouco conhecido aqui no país”, diz sobre o amigo.

 

Como ator, Ari participou nos filmes franceses Un Desert pour Constance, de Sarah Maldoror, em Paris (1977) e Le Sauvage, de Jean-Paul Rappeneau. Também fez o papel de Juiz, contracenando com Alexandre Frota, no seriado Turma do Gueto, da TV Record.

 

 

UMA CÂMERA NA MÃO E ALGUMAS IDEIAS NA CABEÇA

“Fiquei isolado por opção. Por discordar de um monte de coisa, por ver gente se enquadrar, jogar sujo. Tipo Maria vai com as outras”. Cruel e generoso ao mesmo tempo, o passado de Ari, de um lado marcado por discordâncias ideológicas perante setores do Movimento Negro e decepções com a postura dos quais ele chama de “oportunistas” – sujeitos que se utilizam do discurso da igualdade racial para conseguir benefícios para si próprios; mas também por imensuráveis contribuições a representação do negro no cinema nacional e diversos prêmios, parecem não afetar sua incansável disposição em produzir e representar, com dignidade, o negro na sétima arte. “Estou preparando uma pancada pesada. Dessa vez vou ‘brincar’ um pouco com a história do Brasil, e novamente tendo o negro como parte desta história. Dessa vez não vai ser um curta, pois preciso de mais espaço e também porque quero colocar mais coisas da minha vivência e do que estou acompanhando a 20, 30 anos”.

 

O leão ainda ruge!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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OBRAS

– Martinho da Vila, Paris 1977
– Por quê a Eritréia? (1978)
– O Rito de Ismael Ivo (2003)
– O Moleque (2005)
– Pacaembu, terras alagadas (2006)
– Jardim Beleléu (2009)

 

 

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NOTAS DE RODAPÉ

DECRETO-LEI 477/69, também chamado de “AI-5 das universidade”, foi baixado pelo então presidente Artur da Costa e Silva durante o regime militar brasileiro. O decreto-lei previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime. Os professores atingidos eram demitidos e ficavam impossibilitados de trabalhar em qualquer outra instituição educacional do país por cinco anos, ao passo que os estudantes eram expulsos e ficavam proibidos de cursarem qualquer universidade por três anos.

 

No Brasil, o CINEMA NEGRO aparece com o Cinema Novo, que surge como crítica ao cinema produzido pelos grandes estúdios. Podemos dizer que o Cinema Negro é, conforme definição do antropólogo, cineasta e professor Celso Prudente, curador da Mostra Internacional de Cinema Negro, “o cinema que mostra, na estrutura do primeiro e do primeiríssimo plano, toda a expressão de conjunto cultural que traz relações do ser africano, que é furtado num processo de massificação, na qual lhe é negada a sua condição humana”.

 

 

 

 

 

Nabor Jr.

Nabor Jr. é fundador-diretor da Revista O Menelick 2° Ato. Jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e História da Arte, também atua como fotógrafo com o pseudônimo MANDELACREW.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.