maio de 2010

ENFIM UM SPIKE LEE TUPINIQUIM?

Nabor Jr.

 

 

 

fotos MANDELACREW

 

 

 

 

 

 

 

Em uma de suas observações no livro “O Negro Brasileiro e o Cinema”, lançado em 2001, pela editora Pallas, o respeitado jornalista, crítico de cinema e pesquisador João Carlos Rodrigues, aponta a escassez, para não dizer a quase nula presença de negros atrás das câmeras como uma das principais razões para uma representação ainda carregada de estereótipos do negro brasileiro na cinematografia nacional.

 

Porém, assim como os Estados Unidos demorou décadas para produzir um diretor da categoria de Spike Lee, Rodrigues acredita que o diretor afro-brasileiro “ideal”, com respeito aos excelentes Zózimo Bubul, Ari Cândido e Joel Zito Araújo, surgirá quando menos se esperar. “Arrisco a dizer que esse nosso primeiro grande cineasta negro brasileiro só chegará no seu tempo certo de gestação histórica. Não podemos pular etapas e fabricá-lo numa proveta”.

 

Hoje, 10 anos depois, se a profecia ainda não foi concretizada, ao menos parece estar sendo sondada de perto. E o cineasta paulista Jéferson De é, no momento, quem parece mais próximo de unir as competências técnica e artística e a conscientização política para ocupar o posto de grande cineasta negro brasileiro da contemporaneidade.

 

De proveta, ao menos, ele não surgiu. Pelo contrário, sua gestação está sendo longa e o pré-natal, digamos, muito bem feito. Já que apesar da pouca idade, 32 anos, soma uma década de serviços prestados a cinematografia nacional, entre bem avaliados curtas-metragens, como os filmes Distraída para a Morte, Carolina (com o qual foi agraciado com o prêmio “Kikito de Ouro”, no Festival de Gramado de 2003) e Narciso Rap, além de projetos independentes variados. “Tive o privilégio de trabalhar com a Regina Cazé, no Central da Periferia, pesquisando e dirigindo algumas coisas, na MTV fiz o seriado Vinte e poucos anos, como editor. Também passei pelo SBT e tal”.

 

Também contam pontos para o cineasta de origem humilde que durante toda a juventude estudou em escola pública e que formou-se em Cinema pela USP, a criação do manifesto Dogma da Feijoada (inspirado no grupo dinamarquês Dogma, que preconiza um cinema sem artificialismo), cujo objetivo é mudar culturalmente a maneira do cinema brasileiro retratar o negro (vejo na tabela os 10 mandamentos do movimento).

 

 

Ainda visto como uma agradável revelação do cinema nacional, Jéferson De pode ter o nome consolidado como um grande cineasta no segundo semestre deste ano, quando estréia o seu primeiro longa-metragem Bróder, produzido pela Glaz Cinema, Barraco Forte, Columbia Pictures e Globo Filmes. “Broder foi meu primeiro roteiro de longa na minha vida. Nunca havia escrito um roteiro de longa. Tudo pra mim ta novo. Ir para o Festival internacional, como por exemplo como foi em Berlim. Estou aprendendo a lhe dar com a ansiedade”, diz.

 

Paralelamente as finalizações de Bróder, Jéferson está escrevendo um episódio da minissérie as Cariocas, que vai ao ar no segundo semestre pela Globo. “Fui convidado pelo Daniel Filho. Estou me dedicando a isso e a finalização do Broder e acabando de escrever meu próximo longa. Onde eu serei produtor, coisa que nunca fui também”.

 

A expectativa da crítica brasileira com Bróder é grande desde quando começou a ser produzido, em meados de 2007. Jéferson tem nas mãos uma excelente oportunidade cravar seu nome como o principal cineasta negro brasileiro da atualidade. Tudo depende do público, da imprensa e dele próprio, mas, independente do sucesso do filme, ele está no caminho certo.

 

Os 7 mandamentos do manifesto Dogma da Feijoada

– O filme tem de ser dirigido por um realizador negro brasileiro
– O protagonista deve ser negro
– A temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira
– O filme tem de ter um cronograma exequível. Filmes-urgentes
– Personagens estereotipados (negros ou não) estão proibidos
– O roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro
– Super-heróis ou bandidos deverão ser evitados

 

 

 

 

 

 

Nabor Jr.

Nabor Jr. é fundador-diretor da Revista O Menelick 2° Ato. Jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e História da Arte, também atua como fotógrafo com o pseudônimo MANDELACREW.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.