junho de 2020

TEM HORAS QUE EU NEM DUVIDO, TEM DIAS QUE EU ACREDITO

Redação

 

 

 

 

 

capa: Hector Sonon, Benin.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Tem horas que é caco de vidro
Meses que é feito um grito
Tem horas que eu nem duvido
Tem dias que eu acredito”.
Paulo Leminski

 

 

 

Com febre, dor de garganta, tosse seca e coriza, um homem (branco) de 61 anos de idade e recente histórico de viagem à região da Lombardia, na Itália, dava entrada no Hospital Israelita Albert Einstein (instituição privada), em São Paulo, no último dia 24 de fevereiro.

 

Quarenta e oito horas depois, o Ministério da Saúde confirmava as suspeitas que pairavam sobre a saúde do paciente, e o Brasil registrava o seu primeiro caso oficial de contaminação pelo novo coronavírus.

 

Os capítulos seguintes da anunciada tragédia sanitária eram previstos por muitos e hoje, são de conhecimento de todos: o exponencial aumento no número de infectados e as primeiras mortes não demorariam a ocorrer e, em pouquíssimo tempo, atingiram em cheio as populações mais vulneráveis do país: pessoas negras* e pobres.

 

Hoje, passados pouco mais de três meses de atitudes irresponsáveis e desastrosas no combate ao vírus patrocinadas pelo Estado brasileiro, ocupamos o segundo lugar do ranking mundial em número de infectados e mortos pela Covid-19. Superamos em escala explosiva os números registrados pela China, primeiro epicentro da doença e que na ocasião do caso inaugural de contaminação no Brasil, contabilizava pouco mais de 78 mil casos confirmados e 2.747 mortes. Não foi por falta de aviso, nem de exemplos, que a pandemia nos engoliu.

 

Considerando o número insuficiente de testes realizados no país, estima-se que a quantidade de infectados pode ser até seis vezes maior dos que os 1.145.906 registrados na noite de 24 de junho**. Esse quadro certamente seria ainda mais trágico se não fosse a existência do SUS (Sistema Único de Saúde) e a energia diária empreendida por seus profissionais – trata-se de um bem que, apesar de se mostrar frágil em algumas frentes, continua representando um mecanismo fundamental para que a saúde seja um direito universal. Precisamos lutar para que o SUS permaneça e se fortaleça.

 

Para aqueles que ainda desdenham da doença, mesmo com os depoimentos e relatos de pessoas próximas, além da enxurrada de informações veiculadas por diversas plataformas, um alerta importante: além da ameaça de morte, os sintomas do coronavírus são terríveis e o tratamento extremamente doloroso. Os alardeados respiradores não são como uma máscara, pelo contrário, são equipamentos grandes, desconfortáveis. Isso sem contar as sequelas e o distanciamento total das pessoas que mais amamos.

 

A abertura gradual das atividades econômicas tem revelado que as demandas do capital são mais importantes que a vida da população brasileira. Fiquemos atentos!

 

 

 

#PretosNoFront

 

É justamente com o objetivo de alertar a população sobre essa realidade, que não é de hoje e  que mais uma vez pune severamente o elo mais frágil do abismo sócioecômico preservado há séculos no Brasil, e apresentar as pessoas pretas que estão na linha de frente no combate ao coronavírus no país, que o publicitário mineiro especialista em Marketing Estratégico e Branding, Gleidistone Silva, criou a websérie #PretosNoFront.

 

 

websérie #PretosNoFront | episódio 01 | saúde

 

 

 

Dividida em três episódios que destacam a atuação de profissionais pretos nas áreas da saúde, comunicação e mobilização social no combate a Covid-19, #PretosNoFront reúne histórias e personagens de diferentes perfis, idades e localidades. Totalmente produzido com imagens captadas via celular (o que não afeta a sua qualidade técnica final, pelo contrário, essa característica empresta veracidade aos vídeos por revelar as condições impostas pelo isolamento social) e explorando ambientes da intimidade dos entrevistados, a websérie apresenta uma boa dinâmica de entrevistas, pesquisas e trilhas sonoras.

 

 

 

websérie #PretosNoFront | episódio 02 | comunicação

 

 

 

#PretosNoFront ganha corpo especialmente nos dois últimos episódios – com os entrevistados mais soltos e as informações melhor trabalhadas na edição – tornando-se assim um material jornalístico relevante por documentar os atuais impactos da Covid-19 em variados setores sociais ocupados pela população negra no Brasil, alertando para seriedade do período que vivemos e a atenção redobrada que devemos ter. Acredite!

 

 

 

websérie #PretosNoFront | episódio 03 | mobilização social

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • notas///

*Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/48879

**Mapa da contaminação do Covid-19: https://www.otempo.com.br/coronavirus

 

 

 

 

 

 

 

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.