maio de 2010

VITCHÉ: VIM, VI E VENCI

Nabor Jr.

 

 

 

colaboração Janaína Gomes

 

 

 

 

 

Fragmentos da plástica e da magia do circo transportados para um universo sombrio e lúdico, onde o vermelho, o preto, o branco e o prata dialogam para transmitir sentimentos como ódio, amor, paz e escuridão.

 

Essa é apenas uma das facetas da peculiar obra do grafiteiro, ilustrador, escultor e pintor de diversos suportes, Victhé. Paulistano do bairro do Cambuci, contemporâneo dos Gêmeos, o artista, que começou seu trabalho nos anos 80, hoje, já da veia, é um dos principais precursores do graffiti no país.

 

Com trabalhos expostos no Brasil, Estados Unidos, América Latina e Europa, em locais como a conceituada Fundação Cartier, em Paris, Victhé começou sua carreira rabiscando de giz o asfalto das ruas do Cambuci. Pra tudo tem um começo!
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O MENELICK 2º ATO: Nome?
VITCHÉ: Vicente Rodriguez Mora. Sou filho de imigrantes espanhóis.

 

OM2ºATO: Porque Vitché?
VITCHÉ: Desde muito cedo já brinco na rua e, aproximadamente, com cinco pra seis anos me deram este apelido que veio naturalmente pelo meu verdadeiro nome .

 

OM2ºATO: Idade?
VITCHÉ: Nasci em julho de 69. É muito legal completar 40 anos justo com Woodstock e a ida do homem a lua .

 

OM2ºATO: Onde nasceu e cresceu?
VITCHÉ: Em um bairro mágico chamado Cambuci, no Centro de São Paulo

 

OM2ºATO: Lembra-se como foi fazer, quando e onde fez seu primeiro graffiti?
VITCHÉ: Na verdade, foi muito natural. Foi meio que brincando, tinha 10 anos e pintei minha primeira parede com o resto de tinta que usávamos para fazer o campinho de futebol na rua onde moro até hoje .

 

 

OM2ºATO: Como está sua relação com as ruas hoje. Continua pintando por aí pra se divertir?
VITCHÉ: Sim eu gosto de pintar e a rua sempre te ensina alguma coisa diferente. Mas, hoje, sei que posso me divertir de várias maneiras, como fazendo uma escultura, conhecendo novos materiais ou técnicas, mas a rua tem algo realmente especial .

 

OM2ºATO: Reparamos no seu trabalho um gosto pelo lúdico (sonho), pelo uso freqüente de cores quentes, como o vermelho, por exemplo e, por vezes, traços que remetem ao universo circense. Explique um pouco do seu trabalho, inspirações e referências.
VITCHÉ: Na verdade, procuro ter um equilíbrio no meu trabalho. Algo entre o sonho e a realidade. Hoje também tenho muitas inspirações nos antepassados e nos povos que já passaram pelo planeta . Gosto também do lúdico como uma forma de sonhar, para mim o sonho e a realidade caminham lado a lado. O divertido é não se deixar cair da corda bamba .

 

 

OM2ºATO: Porque os olhos são tão expressivos na sua obra? O que eles querem dizer?
VITCHÉ: Os olhos são como um estado de sensibilidade e consciência, principalmente pelo que vem acontecendo com o planeta, como os desmatamentos, as queimadas, a extinção de espécies e a falta de visão da grande maioria dos homens. Para que direção esta o verdadeiro progresso já que não conseguimos muitas vezes respeitar o planeta aonde moramos?

 

OM2ºATO: Como foi a transição das ruas e telas para as esculturas e ilustrações? Foi uma evolução natural do seu trabalho? Em que plataforma se sente melhor?
VITCHÉ: Me sinto bem em todas as formas de expressão. Vejo tudo isso como maneiras de se comunicar e eu realmente me preocupo mais no que vou dizer. É como falar inglês, alemão ou francês, são como técnicas , a transição e a evolução foi natural mais acho que a essência sempre foi a mesma .

 

 

 

OM2ºATO: Você já expôs na Fundação Cartier, em Paris, além de museus na República Tcheca e na Alemanha, por exemplo. Porque os gringos gostam tanto dos artistas de rua do Brasil?
VITCHÉ: No mundo existem muitos artistas bons, mas o melhor de tudo isso e que hoje o Brasil esta no mapa e também pode mostrar seu estilo. O que é muito bom .

 

OM2ºATO: Você trabalha muito com madeira, tem um discurso de resgate do verde nas grandes cidades e tal. Como é o seu trabalho neste sentido?
VITCHÉ: Na verdade me preocupo muito com o planeta. Vivo no centro de uma grande cidade mal planejada e com pouco verde. Considero a natureza muito importante para nossa vida . Uso madeiras que encontro na rua para fazer as esculturas porque sei que elas um dia foram uma árvore  e tento resgatar um pouco da energia que sei que esses pequenos pedaços de madeira ainda tem, mas na verdade tudo é como um grito para que essa falta de consciência pare e que possamos abrir os olhos antes que eles não possam mais serem abertos .

 

 

 

 

 

 

 

 

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vitché.com.br

Nabor Jr.

Nabor Jr. é fundador-diretor da Revista O Menelick 2° Ato. Jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e História da Arte, também atua como fotógrafo com o pseudônimo MANDELACREW.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.