março de 2024

SOBRE A AUSÊNCIA DA ARTE NEGRA BRASILEIRA EM COLEÇÕES MUSEAIS E A AGÊNCIA DO ARTISTA JORGE DOS ANJOS

Vanicleia Silva Santos

 

 

 

 

 

 

 

Jorge Luiz dos Anjos nasceu sete décadas após o fim da abolição da escravidão no Brasil (1888) e três décadas após a tão famosa Semana de Arte Moderna (1922). Este evento, que concentrou a elite branca brasileira, principalmente a paulistana, buscava romper com o academicismo e a influência europeia. O objetivo do movimento era identificar a estética da brasilidade e alguns aspectos que formavam a cultura nacional, tais como os elementos da forjada mestiçagem e os regionalismos. O tema das artes plásticas foi a conformação social brasileira, sobre a qual pintores e pintoras brancos representaram idilicamente indígenas, trabalhadores, negros e outros temas. Contudo, a organização da Semana de Arte Moderna não convidou nenhum artista negro ou indígena para participar do movimento artístico. Isto é, os idealizadores da Semana de Arte Moderna, todos brancos (com exceção de Mario de Andrade que, apesar das suas raízes, não se afirmava negro), tentavam, no campo estético, se afastar do passado colonial e das influências acadêmicas europeias, mas eles excluíram artistas de origem negra e indígena no momento em que o Brasil buscava sua singularidade modernista.

 

“(…) não é possível ignorar as continuidades históricas que afetam determinados grupos em detrimento de outros. Olhar para o passado do ponto de vista dos problemas do presente permite-nos perceber que a continuidade da exclusão da população negra e indígena de espaços de prestígio faz parte do racismo sobre o qual nossa sociedade está lastrada para manter a supremacia branca no topo da representação das artes no Brasil”

Estudiosos que possuem uma visão eurocêntrica acreditam que a atitude de interpretar a história pela lente do presente é uma atitude de superioridade temporal daqueles que se consideram moralmente acima dos sujeitos do passado. Em outras palavras, tais estudiosos sugerem que devemos olhar a história pelos olhos dos indivíduos da época, bem como relativizar e entender que as pessoas agiram de forma racista e violenta no passado, devido ao contexto em que viveram. Este é um argumento falso, pois não é possível ignorar as continuidades históricas que afetam determinados grupos em detrimento de outros. Olhar para o passado do ponto de vista dos problemas do presente permite-nos perceber que a continuidade da exclusão da população negra e indígena de espaços de prestígio faz parte do racismo estrutural sobre o qual a sociedade brasileira está lastrada para manter a supremacia branca no topo da representação das artes no Brasil. Em outras palavras, a análise da história de longa duração explica a gritante ausência de artistas não-brancos nos principais museus e galerias no Brasil cem anos após a inauguração da Semana de Arte Moderna, a qual não contou com artistas negros.

 

A principal explicação para a ausência ou a presença restrita de artistas não-brancos nos museus brasileiros também se concentra na tendência brasileira de valorizar a produção artística realizada na Europa. No século XIX, museus e galerias de artes europeias eram representações da “cultura civilizada”, nos quais as elites se viam contempladas. Por outro lado, os museus etnográficos (alguns herdeiros dos antigos gabinetes de curiosidades), exibiam os povos não-europeus para marcar a diferença e a hierarquização entre europeus e não-europeus. Enquanto a arte europeia era contemplada como modelo universal do “belo” nas galerias e museus de arte, os museus etnográficos e de história natural eram o lugar da desumanização e consolidação de uma ideia do não-europeu, que era exposto lá enquanto o “atrasado”, o “selvagem” e o “exótico”. Em geral, os museus construídos a partir do século XIX na Europa são o resultado da expansão colonial, nos quais objetos africanos, indígenas e asiáticos eram expostos desde a lente da curiosidade, do exótico, do fetiche e, pasmem, do a-histórico. Assim, os primeiros museus brasileiros de arte se pautaram na ideia de que os museus deveriam moldar a noção de supremacia dos colonizadores e de seus descendentes que se portavam como novos europeus nas colônias.

 

Apesar deste contexto lastimável, algumas mudanças estão acontecendo no cenário das artes no Brasil. A seguir, destacarei duas delas. A principal transformação foi a iniciativa inovadora do Museu Afro Brasil, que é o maior detentor de obras originais de artistas afro-brasileiros desde o século XVIII até a contemporaneidade. O baiano Emanoel Araujo (1960-2022), criou o museu, em 2004. Araujo foi o mais proeminente curador brasileiro, que realizou grandes exposições nacionais e internacionais, nas quais reunia grandes mostras da produção artística de pessoas negras do Brasil.

 

Outra marcante iniciativa ocorreu em 2018, com a exposição Histórias Afro-Atlânticas, realizada simultaneamente no MASP e no Instituto Tomie Ohtake, e que reuniu obras de artistas negros brasileiros e estrangeiros, bem como obras de artistas brancos que representaram pessoas negras em suas criações (1). Esta mostra cobriu um vasto período da história do mundo atlântico, desde o século XVII até o XXI, já que os curadores comissionaram algumas obras para a mostra. Depois de sua inauguração em São Paulo, em 2018, essa exposição está seguindo um programa de itinerância em museus dos Estados Unidos, desde 2022 (2).

 

Evoco a celebração do centenário da Semana de Arte Moderna não apenas para lastimar a ausência de artistas negros e negras naquele evento (3). O objetivo é questionar a permanência, ao longo do tempo, deste sistema que invisibiliza artistas não-brancos nos museus brasileiros, tal como Jorge dos Anjos. Nascido em Ouro Preto (MG), em 1956, ele é desenhista, pintor e escultor. Ainda na adolescência, iniciou sua formação acadêmica na Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), em Minas Gerais. Foi aluno de celebridades, como Amílcar de Castro, Ana Amélia e Nello Nuno, com os quais estudou desenho, gravura, pintura e escultura. Famoso por sua criatividade e domínio técnico de diversos materiais, Jorge dos Anjos transformou o ensinamento de seus mestres, criando a sua própria síntese de arte figurativa e “abstração afro-diásporica” (conceito de Renata Felinto) (4). Ele produz esculturas em madeira, ferro e pedra-sabão; pinta em diversos suportes; grava em couro, lona e feltro e cria diversos objetos a partir de seus riscos e recortes. 

 

“(…) Jorge dos Anjos criou sua própria síntese de arte figurativa e ‘abstração afro-diásporica’, produzindo esculturas em madeira, ferro e pedra-sabão; pintando em diversos suportes; gravando em couro, lona, feltro… criando diversos objetos a partir de seus riscos e recortes”. 

Apesar da parca presença em museus,  Jorge dos Anjos conseguiu se inserir no espaço da cidade de Belo Horizonte, capital brasileira mais reconhecida pelas grandes obras do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). As esculturas e os painéis de Jorge dos Anjos estão presentes na arquitetura contemporânea de Belo Horizonte e de outras cidades do Brasil, ocupando ruas, edifícios públicos e privados e conceitualizando novos desenhos de interiores. Como isso aconteceu? Jorge dos Anjos aprendeu que o diálogo e a proximidade com autoridades e galeristas são determinantes para um artista se tornar mais conhecido. Além disso, aprendeu que o diálogo com a comunidade negra, como forma de organização social, também é essencial. Este é o caminho trilhado por Jorge dos Anjos para marcar as cidades brasileiras com sua arte.

 

Como Abdias Nascimento (1914-2011), Rubem Valentim (1922-91), Agnaldo Manoel dos Santos (1926-62), Yeda Maria Correia de Oliveira (1932-2016), entre outros, Jorge dos Anjos é um pós-modernista. Sua vasta produção artística teve início nos anos 1970, quando começou a participar de exposições coletivas e individuais. Sua produção se intensificou nos anos 1990, com mais de vinte exposições nesta década, média que manteve nas décadas seguintes. A partir dos anos 1980, as obras do artista passaram a integrar os acervos de instituições nacionais e internacionais. Contudo, a presença de Jorge dos Anjos em acervo institucionais brasileiros se deve, em grande parte, ao fato do próprio artista ter doado suas peças. A seguir examino o percurso de doações e vendas das obras deste artista, bem como apresento as obras de arte que as instituições adquiriram.

 

 

foto: Irena dos Anjos

Jorge dos Anjos

 

 

 

DOAÇÕES

As primeiras doações de Jorge dos Anjos ocorreram no início de sua carreira, quando ainda morava em Ouro Preto. Em 1984, ele participou de uma exposição coletiva de pintores no Palácio das Artes (Fundação Clóvis Salgado), em Belo Horizonte. Ao final da exposição, ele doou para o acervo da referida instituição uma pintura (a obra Festa) – tipo de arte visual que predominou no início de sua carreira. Jorge dos Anjos compartilhou em conversa comigo que concebeu este trabalho num período em que não tinha recursos financeiros para comprar os materiais para pintar. Assim, ele aplicou têmpera vinílica sobre o papelão de uma caixa de geladeira da marca brasileira de eletrodomésticos Consul, razão pela qual esta palavra aparece no lado esquerdo da pintura. Os desenhos na tela de papelão, como os símbolos de tridentes, colares (ou guias) coloridos, estrelas, flores, copos e também as cores vermelha e preta são referências às festas de Exu, realizadas na Umbanda. Esta pintura abarca aspectos que formam a cultura nacional, como a Umbanda, o Candomblé, o Catolicismo e referências à tradição dos povos originários. Assim, a Festa de Jorge dos Anjos é uma síntese da formação multifacetada do artista. Esta foi a primeira doação dele.

 

 

foto: Acervo Palácio das Artes

                                     JORGE DOS ANJOS
OBRA: Festa MATERIAL: Têmpera vinílica sobre papelão DIMENSÕES: 160 x 220 cm ANO: 1984
ACERVO: Palácio das Artes (Fundação Clóvis Salgado), Belo Horizonte

 

 

 

A segunda doação de Jorge dos Anjos para uma instituição brasileira foi ao Museu Afro Brasil. Como já mencionado anteriormente, a inauguração deste museu (2004), em São Paulo, marca uma ação histórica e revolucionária no cenário brasileiro. Diferente de outros museus, este foi planejado para abrigar um acervo voltado para a produção da arte negra do Brasil, de modo que Emanoel Araújo convidou Jorge dos Anjos para fazer parte do acervo e da exposição permanente do referido espaço. Para tal, Jorge doou ao Museu Afro Brasil um impressionante conjunto escultórico de dez colunas compostas por dez peças de pedra-sabão, encaixadas uma sobre a outra. Cada peça, cortada em quadrado, possui incisões geométricas em baixo e alto relevo, que remetem aos símbolos dos orixás. Naquele momento, ao convidar o artista para fazer parte do acervo da exposição permanente do espaço, o Museu Afro Brasil, jogou com uma conhecida e antiga argumentação dos espaços institucionalizados: a de oferecer visibilidade e validação ao artista e sua obra como moeda de troca pela doação. Embora revolucionário para o contexto brasileiro, o referido reproduziu o saber-fazer das instituições hegemônicas para formar o seu acervo inicial.

 

 

 

foto: Nelson Kon

             JORGE DOS ANJOS
OBRA: Sem título MATERIAL: Pedra-sabão ANO: 2002
ACERVO: Museu Afro Brasil, São Paulo

 

 

 

Jorge dos Anjos explicou ainda que no processo de aquisição de suas peças, as doações ocorrem, principalmente, porque as instituições alegam que a obra é importante para o acervo, mas não têm recursos para comprá-las. Assim, por compreender a importância de suas obras fazerem parte de determinado acervo ele acaba doando seus trabalhos. Trata-se naturalmente de um movimento estratégico do artista ter uma obra em instituições públicas de prestígio. Contudo, a alegação das instituições sobre a falta de recursos para adquirir as obras de Jorge dos Anjos contrasta com os milhões de reais investidos pelas instituições brasileiras para adquirir obras de artistas nacionais e internacionais, em geral, pessoas brancas. Para dar apenas um exemplo, o Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, tem um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e é considerado o maior museu a céu aberto do mundo. Contudo, apesar de possuir mais de duzentos artistas brancos em seu acervo, até 2020, contava com apenas três artistas negros, sendo, todos eles, homens estrangeiros. Até hoje, o referido Instituto não adquiriu qualquer obra de Jorge dos Anjos. 

 

 

AQUISIÇÕES 

Quando escrevi a versão original deste texto (5), em janeiro de 2023, apenas duas instituições brasileiras e duas estrangeiras haviam adquirido obras de Jorge dos Anjos para seus acervos através da compra, sendo o primeiro deles o Museu de Arte da Pampulha. Por meio de dois Prêmios de Aquisição realizados em Minas Gerais (6), este museu comprou quatro pinturas do artista, sendo a primeira O beijo (1982)da série Fragmentos de um amor, obra que recebeu o Prêmio Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais, em 1982. As demais fazem parte da série Luz Negra, formada por três têmperas vinílicas sobre tela, que receberam o 2° Prêmio Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, em 1985. São elas: Corpo, Máscara e Espaço. Os prêmios de aquisição foram essenciais para Jorge dos Anjos ter suas obras no principal museu de Belo Horizonte. Estas três obras estão atualmente na exposição Arte Brasileira a coleção do MAP na Casa Fiat de Belo Horizonte (7).

 

 

 

fotos: Irena dos Anjos

ACERVO: Museu de Arte da Pampulha

 

 

 

A segunda compra foi feita pela Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira/AMAFRO, administradora do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira/MUNCAB. O curador Emanoel Araújo intermediou esta aquisição, pois já havia convidado Jorge dos Anjos para participar de outras exposições organizadas por ele, como a Herdeiros da Noite (1995) e Negras Memórias, Memórias de Negros (2005). Para esta última exposição, que aconteceu no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e em outros espaços, o artista produziu três colunas feitas de chapas de aço recortadas, no tamanho de 205 x 44 x 23 m. Assim, com o fim desta exposição itinerante, Jorge dos Anjos vendeu as peças para o acervo do MUNCAB, localizado na cidade de Salvador, na Bahia.

 

 

 

foto: Tarso Cruz Ferreira

JORGE DOS ANJOS
OBRA: Coluna MATERIAL: Chapas de ferro recortadas
DIMENSÕES: 207 X 44 X 23 cm ANO: 2004
ACERVO: MUNCAB, Salvador (Bahia)

 

 

 

Em 2018, ocorreu a terceira aquisição. O Espace AMBA, localizado em Melides, Portugal, comprou cinco esculturas de Jorge dos Anjos. Uma delas é a série Templo Ancestral (2018-9), formada por quatro colunas de pedra sabão, com dez peças cada uma. Estas colunas estão sobre quatro bases feitas de cimento. A outra peça, intitulada África Global (2001), é uma escultura de ferro, com quatro partes, com símbolos geométricos recortados em cada lado, instalada sobre uma base de cimento. Jorge dos Anjos produziu, em Ouro Preto, todas as peças que estão em Melides e depois as enviou para Portugal. 

 

 

 

 

 

O Penn Museum da University of Pennsylvania, fez a quarta aquisição em 2019. As obras de Jorge dos Anjos estão na entrada principal da Africa Galleries, uma exposição permanente inaugurada em novembro de 2019 (8). Sua obra principal, Wall of Memory for an Ancestral Palace [Parede da Memória para um Palácio Ancestral] é composta por placas de ferro vazadas, com símbolos geométricos que remetem aos Orixás. 

 

 

 

foto: Vanicléia Silva-Santos

JORGE DOS ANJOS
OBRA: Wall of Memory for an Ancestral Palace MATERIAL: Chapas de ferro recortadas
ANO: 2019 ACERVO: Penn Museum, Pennsylvania (EUA)

 

 

 

Além das placas que cobrem toda a fachada da entrada da exposição, do lado esquerdo há uma escultura de Exu, feita de setas de ferro, em todas as direções, indicando que Exu é o guardador dos caminhos e cuidador da entrada da exposição. Jorge dos Anjos respondeu ao seguinte desafio proposto pelo curador geral da exposição, Tukufu Zuberi, para os artistas convidados: como a arte contemporânea afro-diaspórica dialoga com artefatos históricos africanos que são forçadamente diaspóricos? 

 

 

 

foto: Vanicléia Silva-Santos

JORGE DOS ANJOS
OBRA: Exu MATERIAL: Chapas de ferro recortadas ANO: 2019
ACERVO: Penn Museum, Pennsylvania (EUA)

 

 

 

No final de 2023, um dos mais importantes museus de arte do Brasil, a Pinacoteca do Estado de São Paulo adquiriu uma obra de  Jorge dos Anjos: a Encruzilhada. Trata-se de uma grande escultura de chapas de ferro, que pesa 900 quilos, que faz parte da série Avesso. A história desta série é muito intrigante: no início dos anos 2000, Jorge dos Anjos comprou uma grande placa de ferro que pertenceu ao mestre dele, Amílcar de Castro, logo após este falecer. O artista queria comprovar para si que tinha aprendido a técnica pura do construtivismo e assim construiu a série Prova dos Nove, composta de esculturas em chapas de ferro. Passado este momento de confirmação de aprendizado técnico com o mestre, Jorge dos Anjos se libertou e partiu para a construção de um novo projeto, que se tornou a série Avesso. Nesta série, Jorge dos Anjos avança e passa a fazer suas criações, que juntam uma linguagem técnica com a influência da tradição religiosa africana no Brasil. Ele virou do avesso a formação técnica e criou a sua própria linguagem. Neste caso, a escultura é uma referência à Exu, a divindade mais humana do mundo iorubá. Exu cuida dos caminhos, pois representa os movimento e a dinâmica da vida.

 

 

 

foto: Glenio Campregher

JORGE DOS ANJOS
OBRA: Encruzilhada (Série Avesso)
MATERIAL: Chapas de ferro recortadas
DIMENSÕES: 2.27 x 2.80, 2.34 m (900 kg) ANO: 2021
ACERVO: Pinacoteca do Estado de São Paulo

 

 

 

Nos últimos anos, em consequência das críticas da sociedade civil e das repercussões nas mídias de movimentos internacionais como o Black Lives Matter, museus e outras instituições voltadas para as artes plásticas, como o MASP e o Instituto Inhotim, estão repensando suas práticas curatoriais e a ausência de artistas não-brancos em seus acervos.  A quase ausência de artistas como Jorge dos Anjos nos museus brasileiros revela que as escolhas feitas por curadores dos mais diversos museus em relação a quem representa as artes brasileiras é proposital para manter a supremacia de um grupo. Portanto, é essencial que as instituições problematizem a ausência e a invisibilidade, em seus acervos, de artistas que representam os diversos grupos que formam a sociedade brasileira. Mais do que criticar o passado, esta análise é um convite para olharmos para o futuro, considerando outras genialidades das artes brasileiras.

 

 

 

 

 

 

NOTAS

 

  • (1) PEDROSA, P.; HERÁCLITO, A.; MENEZES, H.; SCHWARCZ, L. M.; TOLEDO, T. Histórias Afro-Atlânticas. Volume 1. Catálogo. São Paulo, Instituto Tomie Ohtake; Masp, 2018; PEDROSA, A.; CARNEIRO, A.; MESQUITA, A. Histórias Afro-Atlânticas. Volume 2. Antologia. São Paulo, Instituto Tomie Ohtake; Masp, 2018;
  • (2) Depois de São Paulo, a exposição Histórias Afro-Atlânticas foi apresentada, até agora. em quatro instituições dos Estados Unidos: Museum of Fine Arts, em Houston (2021), National Gallery of Art, em Washington, DC(2022), Los Angeles County Museum of Arts (2023) e Dallas Art District (2023-2024);
  • (3) FELINTO, Renata Aparecida. Enterrar o Saudosismo da ausência: não estivemos em 1922, porém estamos em 2022. Revista do Centro de Pesquisa e Formação, n. 14, 2022, pp.132-250;
  • (4) FELINTO, Renata Aparecida. Enterrar o Saudosismo da ausência, p.144;
  • (5) SILVA-SANTOS, Vanicleia. A Arte Negra Brasileira nos Museus, o caso de Jorge dos Anjos.”In: MOURA, Teresa; RODRIGUES, Rita. Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na Paisagem da Cidade. Belo Horizonte: Editora do Autor, pp. 103-113;
  • (6) Inventário – Museu de Arte da Pampulha. Museu de Arte da Pampulha. Belo Horizonte: Museu de Arte da Pampulha, 2010, p. 21. E-book disponível online AQUI;
  • (7) A exposição Arte Brasileira a coleção do MAP, aberta de 10 de outubro a 4 de fevereiro, contou com cerca de 200 obras da coleção do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte;
  • (8) Wall of Memory for an Ancestral Palace. Object Number: EP-2019-7-1 https://www.penn.museum/collections/object/562003

 

 

SUGESTÃO DE LEITURA

Negro Drama – Ao redor da cor duvidosa de Mário de Andrade
Oswaldo de Camargo
Ciclo Contínuo Editorial
São Paulo
2018

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vanicleia Silva Santos

Vanicléia Silva-Santos é professora e pesquisadora de História da África e das diásporas africanas. Depois de 12 anos trabalhando na UFMG, ela está atualmente na University of Pennsylvania, onde é professora e curadora da Coleção Africana do Penn Museum.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.