agosto de 2011

THIS MOTHER FUCKING LIFE

Nabor Jr.

 

 

 

 

 

 

Criado nos anos 70 pelo músico e pan-africanista nigeriano Fela Anikulapo Ransome Kuti (1938-1997), o Afrobeat (miscelânea de riffs do Jazz, do Funk, do Highlife, do Rock Psicodélico, aliado a música yorubá e aos batuques da percussão africana) fez do artista o maior músico africano do século XX. Com todo respeito aos trabalhos prestados por nomes como Miriam Makeba, Youssou N´Dour e Cesária Évora.

 

Aparentemente despretensioso, o dançante ritmo que o extravagante músico concebeu era, ao mesmo tempo, capaz de ser puro entretenimento e energia, induzindo o público a um total estado de transe, como também visceralmente político, incentivando-o a refletir. Canções como: Coffin for Head of State (Caixão para um Chefe de Estado), Colonial Mentality (Mentalidade Colonial) e Teacher, Don´t Teach Me No Nonsense (Professor, não me ensine absurdos, provam essa característica.

 

A vulcânica mistura concebida por Fela, entre o até então novo e vigoroso instrumental e as composições políticas, renderam-lhe fama, popularidade e algum dinheiro. Mas trouxeram também seguidos anos de constantes confrontos com regimes corruptos e repressivos da Nigéria, além de espancamentos, torturas e prisões. A conjunção desses fatores, aliada ao estilo de vida excêntrico do artista, transformaram Fela em um mito.

 

É justamente na transposição do mítico para o real que a biografia autorizada Fela: Esta Vida Puta, do etnólogo e crítico social cubano Carlos Moore, lançado em junho no Brasil, torna-se fundamental para aqueles que desejam não apenas conhecer o homem por trás do artista, como também o conturbado momento político que assolou a África entre os anos de 1960 e o fim dos anos 80 (período que marcou a independência de mais de 30 países do continente).

 

 

Narrado em primeira pessoa, o livro é resultado de mais de 15 horas de entrevistas e conversas entre o autor e o músico, tanto na misteriosa República Kalakuta – comunidade alternativa criada por ele em Lagos, onde vivia com seus amigos, músicos e esposas – como em Paris, onde os dois se encontraram durante uma excursão de Fela, em 1981. A publicação mostra Fela, por ele mesmo revelando por trás do artista de retórica contundente um ativista político corajoso, pan-africanista militante, um grande pensador, espiritualista ferrenho, de modos excêntricos e atitudes muitas vezes ingênuas.

 

A narrativa informal, solta e reveladora, que a cada capítulo se mostra mais instigante,  nos  apresentando as fragilidades e pensamentos do ser humano Fela Kuti. Os capítulos Ofa Ojo I e II e as entrevistas com 15, das 27 mulheres com quem o músico se casou de uma só vez, são o ponto alto do livro, que peca pelas poucas e boas imagens do músico e da famosa República Kalakuta. Nada porém que afete o produto final ou as intenções da obra que, muito mais do que apresentar o homem Fela Kuti, claramente objetiva eternizar a mensagem política de uma África livre deixada pelo nigeriano.

 

 

Fela: Esta Vida Puta é o mais contundente e rico material acerca da vida do homem Fela Kuti e por isso, imprescindível para a compreensão das questões do Mundo Negro e do pensamento do militante social e pan-africanista que revolucionou a música africana e influenciou milhares de pessoas ao seu redor.

 

 

 

 

 

Nabor Jr.

Nabor Jr. é fundador-diretor da Revista O Menelick 2° Ato. Jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e História da Arte, também atua como fotógrafo com o pseudônimo MANDELACREW.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.