maio de 2020

WYNTON MARSALIS: JAZZ, SUPREMO MOVIMENTO DA VIDA

Luciane Ramos Silva

 

 

 

 

 

 

 

ilustração Edson Ikê
fotos
Ester CMA / Luigi Beverelli

 

 

 

 

 

 

 

A Música, assim como outras formas de arte, está profundamente entrelaçada aos movimentos humanos atuando como potência para expressar ideias, desejos ou comunicar sensos sobre o mundo e para expandir o que somos/estamos. Fazer e experimentar arte nos instrumentaliza para improvisar diante dos desafios, para nos sentirmos livres, fazermos escolhas, assim como perceber a vida em coletividade como uma possível experiência da democracia – onde a contribuição individual é um compromisso para a manutenção do todo. Essas janelas simbólicas parecem se abrir quando o assunto é jazz, forma musical nascida da experiência afro-americana e que proporciona ricos caminhos para entendermos como a criatividade, o apuro técnico, a capacidade de reinvenção e o amor estão no cerne das vidas negras.

 

Para esmiuçar esses pulsos presentes no jazz, encontramos Wyntos Learson Marsalis (1961), exímio trompetista dos nossos tempos. Nascido em Nova Orleans, no chamado sul profundo* estadunidense, Wynton cresceu em meio a uma família de músicos, rodeado por grandes referências do jazz. Seu pai, o pianista Ellis Marsallis, ensinou música a Wynton e aos seus três irmãos Brandfort (saxofonista), Dealfeayo (trombonista) e Jason (baterista). Sua carreira como grande trompetista está atravessada por uma sólida formação musical e diversos prêmios como o Grammy e o Pulitzer – esse último ressoou historicamente, pois foi a primeira vez que uma obra de jazz foi agraciada (vale lembrar que em 1965, o pianista Duke Ellington foi citado pelo júri, mas os membros do Pulitzer negaram a indicação).

 

Além de múltiplas distinções, Marsalis, tem uma longa atuação como compositor, educador e diretor artístico da Orquestra Jazz at Lincoln Center, onde também dirige, há décadas, uma programa de educação musical para crianças, jovens e adultos que desenvolve capacidades e interesses. Nos anos 1990, criou a Marsalis on Music uma série para a PBS, TV pública dos EUA, posteriormente distribuída em vídeo, livro e cd pela Sony. Como um programa-aula de auditório, estruturado no formato de arena, Wynton ocupava um tablado multicolorido, rodeado de crianças na plateia e a orquestra exemplificando seus ensinamentos: “músicos de jazz improvisam melodias e improvisar significa inventar espontaneamente – como quando nós falamos… nós usamos palavras para expressar o que queremos dizer para fazer sentido… músicos de jazz fazem a mesma coisa com notas…” Aqui ouviremos alguns exemplos sobre o que músicos de jazz podem fazer.

 

Mirando sua biografia, vemos que suas ações criativas ao longo da história foram construídas no aprofundamento das tradições bem como na expansão de relações e diálogo com outras formas artísticas. Wynton compôs, por exemplo, para a magnífica bailarina e coreógrafa da Alvin Ailey American Dance Theater, Judith Jamison, a obra Sweet Release, peça que conta a história de um casal, representado pelo trombone e o trompete, e as tentações que ameaçam o romance.

 

“Fazer e experimentar arte nos instrumentaliza para improvisar diante dos desafios, para nos sentirmos livres, fazermos escolhas, assim como perceber a vida em coletividade como uma possível experiência da democracia – onde a contribuição individual é um compromisso para a manutenção do todo”.

Conhecido por sua posição crítica ao hip hop tanto em termos estéticos quanto como fenômeno social, e por problematizar as criações que fundem jazz com outras linguagens da música, suas ideias geram debates e controvérsias. Polêmicas à parte, Wynton define à seu modo a relação com as tradições do jazz e neste bate- papo curto e exclusivo (não foi fácil conseguir uns minutos desta célebre e simpática figura) trazemos às leitoras e leitores um pouco dos interesses, perspectivas e realizações de um artista que fala de música, mas também das dinâmicas que nos movem para superar desafios e nos lançarmos harmonicamente adiante ouvindo a música que temos de nós mesmas/os.

 

Brilhante e carismático, Marsalis afirma que o jazz é uma procura por equilíbrio. Nestes tempos e tanta desarmonia e infinitos paradoxos, essa busca por “balance” torna-se uma necessidade.

 

Nossa conversa também destrinchou memórias e fundamentos da música, reconhecendo o quão ela está entrecruzada com a história negra e à edificação da humanidade. Passamos pela Congo Square, o legendário coração musical de New Orleans e berço de grande parte das vertentes musicais daquelas terras; falamos sobre o romancista Ralph Ellison e do programa de educação dirigido por Marsalis junto à Jazz at Lincon Center, em Nova York – a música como forma de retomar humanidades e produzir belezas.

 

 

 

 

///entrevista

 

 

 

 

 

 

LUCIANE RAMOS-SILVA – Nós, na revista, acreditamos na arte – e na música consequentemente – como um modo de entender o contexto ao redor. Pessoas criam, negociam e se adaptam. Pensando na presença da cultura africana e o movimento da diáspora africana, é possível entendermos o Jazz como uma linguagem para sobreviver e resistir, mas também para ampliar a criatividade de pessoas negras na diáspora?

WYNTON MARSALIS – Bom, acredito que precisamos entender a dinâmica de pessoas negras fora da África. Diáspora, negros, se vieram e foram escravizadas, ou se foram colocadas numa posição para garantir uma classe social mais pobre… A luta pela liberdade nunca foi de brancos contra negros, mas sempre de brancos e negros contra brancos. E há características dessa luta, e a principal é ir além da identidade étnica das pessoas e chegar a sua identidade e herança humana. E a música é a arte do invisível. Logo, vai direto para as coisas invisíveis que fazem parte do viver, como sua memória, seus sonhos, sua imaginação, suas aspirações, ciúmes, inveja, raiva, todas essas coisas que existem… Essas coisas não são uma cor, e não são uma cultura, são todas culturas. E quanto mais profundo você for conectado a esse espaço vazio, mais você é capaz de entender a espiritualidade que faz todos serem uma parte de uma única coisa. É muito difícil compreender intelectualmente, mas é muito fácil intuir. Nós sobrepomos nossa intuição a nossa razão com intelectualismo todo dia. Por que intelectualismo é algo que você sente que fez, então as pessoas podem dizer “Olha o que eu fiz”. Enquanto que a intuição é algo que você é dado, ou que você tem, então você olha além disso para procurar a resposta errada. Você olha além da resposta certa e estuda anos para chegar à resposta errada. É uma resposta longa, mas a linguagem da música, do Jazz e o melhor dessa música vem desse mundo espiritual que todos têm, por isso que a música é tão adaptável a formas diferentes.

 

 

LRS – Pessoas costumavam pensar que a imaginação e a criatividade dos negros eram características naturais, inatas. Então eu gostaria que você falasse um pouco dos conhecimentos técnicos e mecânicos envolvidos nisso.

WM – Bom, todas as pessoas são criativas, e isso é inato. Todas os seres humanos da Terra são criativos. Se você for pra qualquer lugar do mundo, você verá pessoas com estilos de cabelos diferentes, utilizando linguagens de modos distintos, pessoas decoram sua casa e se vestem de determinada forma, independentemente da classe social, e são criativas, não importa onde for, negros… Em que medida uma pessoa é ou não é negra? São seres humanos.

 

 

 

 

Agora no que diz respeito a uma maestria artística, bom, isso é bem diferente. Porque, isso quer dizer que você interpreta a mitologia. Inicialmente a mitologia que configura o grupo de pessoas do qual você faz parte. E se seu dom for profundo o suficiente, a mitologia do ser humano. E o que possibilita você a interpretar essa mitologia e, depois, conseguir compartilhar com os outros o que se sabe é o que exige muita habilidade técnica. Porque? Não saberia dizer. É como se todas as pessoas tivessem um Pregador que prega ou fala, e todos tem falsos Pregadores. Porque o falso Pregador prega com bastante carisma, mas não é a verdade espiritual. Mas para ter a verdade espiritual e poder dar voz a ela e tocar pessoas, por algum motivo, requer um preço muito elevado. Por isso que os gregos costumavam dizer que os guardas têm inveja dos artistas, então os faziam sofrer. Não se enxerga isso sem tremenda habilidade técnica, e eu não sei porque. Não se tem o insight espiritual profundo sem a grande habilidade técnica, em qualquer cultura, não importa.

 

 

LRS: Lendo Cornel West, ele dizia que o Blues veio do amor catastrófico. Pensando a respeito de New Orleans e Congo Square** como o coração da possibilidade dessas pessoas africanas de imaginar um novo modo de viver, e também a respeito do seu álbum homônimo de 2007, Congo Square, o que você acredita que seja importante as pessoas saberem sobre Congo Square?

WM – Em Congo Square (álbum) está tudo na música. Porque em Congo Square (lugar) havia o mestre Yacub Addy, que faleceu recentemente… e eu queria escrever algo com ele e pra ele, então o álbum é algo muito pessoal.

Os escravos em New Orleans, como foram escravizados pelos franceses podiam tocar tambores, dançar, vender bens, ter um mercado… Um mercado é muito importante. E muitas vezes quando se consegue ver a liberdade é muito diferente do abjeto. E assim é o Blues. Mais uma vez, o que Yacub falava sobre, eram coisas relacionadas ao ser humano como um todo. Ele não era muito um tribalista. Ele tinha sua identidade tribal, e eu não sou da sua tribo. Ele é da tribo de Deus. De New Orleans. Ele era diferenciado. Congo Square (o álbum) é sobre mães, avós, pais, irmãos e irmãs, algo que o mundo inteiro tem. E ele era muito avançado. Ele dizia muitas coisas engraçadas. Ele me disse uma vez, falando sobre um ritmo: “Esse é um ritmo imperial”. Eu disse: “Não é imperial pra mim, sou dos Estados Unidos”. E ele respondeu “É por isso que nunca vai tocar esse ritmo direito”. Ele me ensinou muitas coisas… sobre ritmos ele disse certa vez que era difícil tocar uma polirritmia, porque quando as mãos esbarram uma na outra é o que tira a sua atenção. “É como pessoas”, ele disse: “Desde que estejam separadas um do outro, podem ir e vir contra o outro e está tudo bem. Mas o problema surge quando duas pessoas têm que estar juntas. Se você tocar um ritmo (Wynton batuca um ritmo com as mãos na mesa). É quando se bate uma mão na outra que se erra. O Blues é uma expressão americana, tem expressões africanas na raiz, do shuffle rhythm. Mas é uma expressão americana. E está relacionada a todas as coisas, está relacionada à música do Oriente Médio, música espanhola, está ligada às três notas fundamentais da música do Ocidente, o coro, está relacionada aos cânticos ingleses, está relacionada à música do Oriente. (Wynton assobia um ritmo). O Blues está relacionado a todas a coisas porque é o Blues. Então Yacub entendia sobre humanismo. Isso era quem ele era. Então ele me ensinou muitas coisas. Sinto falta dele. Eu o amo e o respeito profundamente. E é até difícil falar sobre quão profundas suas lições foram. Um professor muito profundo. Nomway era como o chamávamos. Ele me ensinava como tocar ritmos. Ele cantava o ritmo (Wynton vocaliza enquanto bate palma ritmicamente) e me fazia contar o “um, dois, três” bastante.

 

 

 

 

Wynton Marsalis – Jazz at Lincoln Center Orchestra & Yacub Addy and Odadaa. Congo Square (2007).

 

 

 

 

LRS – Ralph Ellison, o autor de Homem Invisível. Qual a importância desse mestre na sua vida?

WM – Ralph tocava trompete. Então ele também se juntou ao meu mestre de verdade Albert Murray. Cuja casa visitava toda hora, todo fim de semana. O grande Albert Murray, escreveu um livro chamado Stomping the Blues. Mas Ralph, em Homem Invisível, estava falando sobre aspiração e Homem Invisível mostra que não é brancos contra negros, por que toda vez que o protagonista encontra alguém, essa pessoa está fazendo algo para tirá-lo de seu caminho. O presidente da faculdade, o benfeitor, Ras “o destruidor”, não importava quem era… a irmandade… qualquer lugar que ele fosse havia um nível de fraudulência. E o Homem Invisível nos leva do Sul ao Norte, e no fim tem algo sobre identidade. Em que as pessoas achavam que ele era outra pessoa, que ele podia de modo repentino mudar de identidade. É um livro sobre identidade. Quando ele foi trabalhar na indústria de tinta, ele colocava tinta preta na branca para deixar a tinta mais branca. Isso é engraçado. E a luta que ele teve com o homem negro mais velho. É o tempo todo… E o protagonista é qualquer homem, ele não tem característica especial, ele não é herói, ele apenas tem boa intenção. Mas como colocam ele na Irmandade e o tornam responsável por questões de mulheres em Harlem… ele não sabia nada a respeito disso. É como hoje em dia, pessoas tomando conta de coisas que não conhecem. Enfim, Ralph Ellison conseguia ver muito, era muito inteligente. Ele tinha uma inteligência inimaginável. Para mim ele tem muito em comum com Nomway. Sempre tive sorte de estar próximo a grandes nomes. Nomway era um grande nome. Ralph também.

 

 

LRS – Falando sobre grandiosidade e aprendizagem. Ensinar a transgredir. Eu estava lendo sobre o programa de educação em escolas públicas do Lincoln Center, que tipos de oportunidades você acredita que o Lincoln Center oferece aos jovens?

WM – Nós trazemos o quanto podemos. Mas há tanto contra eles. E a liderança é tão ruim. É como se entrássemos em um hospital e o sistema de saúde é muito pobre, e eles nos dão remédios que vão nos matar, mas que também vão nos manter vivos por mais duas semanas. Há tanto contra nesse momento específico. Pode parecer incomensurável. Mas às vezes, essa esperança já é o bastante. É como estar no Congo Square. Se você era um escravo em Mississippi, você não tinha esperança. Você não podia sair, não podia batucar, você não podia vender algo, você não podia comprar a liberdade de seus filhos. Se você fosse um escravo em New Orleans você podia comprar a liberdade de seus filhos. Quantas pessoas faziam isso? Não muitos. Mas você podia fazer isso. Você podia tocar música, você podia vender coisas. Com seres humanos, desde que haja alguma esperança, desde que exista esse símbolo, as pessoas encontrarão isso, e é isso o que representamos. Não é sabido que é isso o que representamos. Por que tem muito contra, é uma luta muito séria. Você pode sorrir e ser educado, mas são tempos muito difíceis. E tem muitos modos de estar engajado nessa luta, não apenas na rua com um cartaz. Isso é um modo. Já que não tem armas, as opções são limitadas. E música foi sempre um modo de manter a humanidade em situações desumanas. Se a música for consciente o suficiente, pois a música pode também ser uma droga.

 

 

 

 

 

 

LRS – Aqui no Brasil nós fomos destruídos em termos de política, direitos civis, democracia. Qual a importância de fazer arte em tempos de Bolsonaro e Trump?

WM – Bom, não vejo Trump como algo diferente do que já tivemos. Quero deixar isso claro. Trump não vem e faz diferente do que 370 milhões de pessoas fizeram dois anos antes. Eu não separo o Trump. O que tínhamos antes de Trump não eram bombas e explodir coisas? Há um movimento da direita ao redor do mundo. E há sempre uma tentativa de controlar recursos e pessoas, principalmente pelo medo. E mais uma vez, é uma consciência baixa. E é dado a pessoas de todas as raças, não apenas àquelas mais bem sucedidas. Talvez você pode ser o mais bem sucedido, mas eu estou tentando também. Talvez você seja melhor em explorar pessoas. Se olharmos ao redor do mundo, vemos liderança fraca em todos os lugares. Vemos pessoas sendo exploradas em todos os lugares, não apenas em países brancos. Vemos pessoas perdendo suas vidas sem razão. Vemos todo tipo de injustiça, que é forçada diretamente à população. As pessoas estão apenas tentando viver suas vidas. Não estão lidando com essas questões. É sempre uma tentativa de controlar recursos, controlar dinheiro, controlar sexualidade, controlar informação, forçar pessoas a fazer coisas e a trabalhar pro ganho de poucas pessoas. Isso é consciência baixa. Música, em algum sentido… Música espiritual… Se não for uma droga, pode ser consciência alta, mas isso leva tempo. O tempo de vida de um ser humano não é tempo suficiente. Por que leva muito tempo a mudar a ideia de que não há recursos suficientes na Terra para sua população. Ou a ideia que você é mais bem sucedido, porque tem mais recursos. E os salvadores de muitas dessas religiões não têm recursos, mesmo com o exemplo de seus salvadores que não tem recursos, as pessoas continuam querendo tudo. Você sabe que não se trata tanto de Trump ou pessoas negras. Porque apenas os negros? Ninguém os controla. E porque apenas os asiáticos? Ninguém os controla. Você olha ao redor do mundo e vê todas essas pessoas. Entende? A questão da música é a representação simbólica. Pois a representação simbólica é muito poderosa, especialmente quando há a música, porque a música é invisível. Então entra dentro de você, como por exemplo a música do John Coltrane que ainda simboliza alguma coisa. Pessoas podem ouvir a música dele e ele está morto, mas a música dele entra dentro deles e isso significa algo.

 

 

LRS – Sim. É invisível, mas nos alimenta, nos traz…
WM – A alma é invisível. Mas está lá.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • notas

 

*Sul profundo = do inglês deep south: área que abrange os estados do sul dos Estados Unidos especialmente Gerogia, Alabama, Carolina do Sul, Lousiana e Mississippi. Ao longo da história tornou-se não apenas uma entidade geográfica, mas também cultural.

 

**Congo Square: atualmente localizada dentro do Louis Armstrong Park, é um área pública de New Orleans onde foi permitida a sociabilidade dos africanos escravizados entre 1700 e 1800. Além de promover reuniões e, tempos depois, mercados abertos, as celebrações africanas de dança e percussão ali praticadas por negros escravizados (e posteriormente libertos) viriam a desempenhar papel substancial no desenvolvimento do jazz.

 

 

 

 

 

 

 

  • AGRADECIMENTOS Ester Campos pela contribuição na gravação da entrevista
    e Alexander Dejonghe pela tradução da entrevista para o português.

 

 

 

 

 

 

 

Luciane Ramos Silva

Luciane Ramos Silva é antropóloga, artista da dança e mobilizadora cultural. Doutora em Artes da Cena e mestre em antropologia pela UNICAMP. Bacharel em Ciências Sociais pela USP. Atua nas áreas de artes da cena, estudos africanos e educação.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.